terça-feira, 15 de junho de 2021

Mértola - a vila-museu do Alentejo

 




Mértola, conhecida por “Vila-Museu do Alentejo”, é uma tranquila vila raiana muralhada, empoleirada num penhasco rochoso e escarpado sobranceiro ao Rio Guadiana, no distrito de Beja.

Visitar Mértola é brindar-se com dias de descanso ao ritmo dos prazeres da vida, e embarcar numa viagem ao passado, rumo à descoberta de vestígios da presença de grandes civilizações que aqui habitaram, desde os romanos, passando pelos visigodos e muçulmanos, até aos cristãos.

Com um clima ameno, as suas ruas calcetadas, e o emaranhado de labirínticas ruelas, com recantos cheios de história, convidam-nos a passeios tranquilos.

Lá em baixo, observamos as calmas águas do Rio Guadiana que são uma tentação em dias mais quentes, convidando-nos para um passeio de barco a relembrar rotas ancestrais.





As origens de Mértola remontam ao período neolítico. Graças à sua posição estratégica junto ao último troço navegável do rio Guadiana, tornou-se num entreposto comercial muito importante, frequentado por Cartagineses e Fenícios.

Mértola ganhou um grande protagonismo durante o período romano, a então “Mirtylis Iulia” transformou-se num importante porto fluvial, com um intenso comércio com os principais portos do Mar Mediterrâneo oriental.

Os Visigodos ocuparam Mértola após a queda do Império Romano. No século VIII a quando da invasão muçulmana a vila passou a ser denominada Mārtulah. Este foi o período de maior dinamismo económico em que a urbe teve o seu apogeu, tornando-se durante um curto espaço de tempo a capital de um pequeno emirado islâmico independente, a Taifa de Mértola.





No reinado de D. Sancho II de Portugal, Mértola foi conquistada aos mouros em 1238 , pelo comendador da Ordem de Santiago, Paio Peres Correia, durante a Reconquista Cristã.

Em 1512, D. Manuel I atribui Foral à vila. Ao longo dos séculos XVI e XVII, o porto de Mértola ganha novamente um papel importante no comercio internacional, devido à exportação de cereais para as ocupações portuguesas no Norte de África.

Mértola conhece uma nova época de prosperidade e crescimento demográfico no final do século XIX, com exploração da jazida mineral em S. Domingos, até 1965 quando a Mina encerrou definitivamente.






O que podemos visitar em Mértola



A vila possui um riquíssimo património arquitetónico, de grande valor histórico e cultural, onde se destacam Castelo, Igreja Matriz, Convento de S. Francisco, Torre Couraça e Torre do Relógio.



Castelo de Mértola



Construído na época medieval, encontra-se assente em antigas fortificações romanas e muçulmanas, tendo sofrido diversas transformações ao longo da História, tendo um recinto amuralhado de aproximadamente 3.000 m2.

Durante o século XIV foi a sede nacional da Ordem de Santiago. Sobre a porta da Torre de Menagem podemos ler : “Esta torre mandou fazer Dom João Fernandes primeiro mestre (da Ordem de Santiago) que houve em Portugal. A visita à torre é imperdível, quer pelo núcleo museológico quer alberga quer pela vista privilegiada que podemos obter da vila e de toda a zona envolvente.






Museu de Mértola



Mértola integra 10 núcleos museológicos, encontrando-se nove na vila e um na aldeia de S. Domingos (Casa do Mineiro). Alguns desses núcleos encontram-se em edifícios recuperados para o efeito, e em sítios arqueológicos representativos dos diversos períodos da História, procedentes de diversas intervenções arqueológicas.







Réplica de uma casa Islâmica

Esta plataforma artificial no interior das muralhas da antiga cidade, sobre as ruinas de um grande edifício paleocristão, foi edificado na segunda metade do século XII um coerente conjunto habitacional. Este bairro de época almóada está servido por uma rede de esgotos que vertem para o exterior das muralhas ou para as fossas individuais abertas nas ruas. Depois da conquista de Mértola pela ordem de Santiago em 1238, todo este local, por se encontrar nas imediações da igreja, foi transformado em cemitério. Esta casa é uma réplica à escala real.





A latrina

Ao contrário do que sucedia nestes tempos em toda a Europa, neste bairro cada casa tinha a sua latrina ligada à rede de esgotos. Uma bilha de água e um pequeno alguidar encontrados no local, seriam utilizados na higiene pessoal. As normas da época obrigavam também o dono da casa a manter em boas condições estas instalações de serviços públicos





O salão e a Alcava

Este seria o salão mais importante da casa. Com uma ou duas alcavas de cada lado em função do seu tamanho.

Cada alcava era um estrado de madeira protegido por uma cortina q que servia de leito aos donos da casa.

Os outros membros da família desenrolavam à noite as suas esteiras neste e noutros compartimentos.






A cozinha

Como é natural a cozinha desempenhava um papel decisivo na estrutura familiar sendo muitas vezes formada por dois espaços: um para armazenamento e outro para a lareira. Do tecto pendiam algumas marmitas com banhas e enchidos mergulhados em azeite. No solo enfileiravam-se os potes de farinha ou frutos secos. Na lareira ferviam nas brasas as panelas de sopa e do cozido de grão.





A Despensa


Neste pequeno compartimento apenas cabia uma grande talha onde era guardada a água fresca. Uma tampa de barro e pega central tapava o gargalo. Na zona do ombro o vidardo verde cobria alguns elementos decorativos onde se destacavam inscrições apelando à protecção divina na pureza da água para beber. A água que ressumava pelo bojode barro poroso, escorri para um suporte que, por sua vez o recolhia num pequeno recipiente.





As tarefas do lar e a tecelagem

A casa era também uma oficina de tecelagem onde a mãe, as avós e as filhas fabricavam as mantas de dormir e a maior parte do vestuário familiar de linho e de lã. Durante as escavações foram encontrados alguns dos instrumentos utilizados nestas actividades como dedais, pontas de fuso e cossoiros.








O Bairro Almóada



Este edifício reproduz uma das 15 habitações que os trabalhos arqueológicos puseram a descoberto nas imediações. Os alicerces com cerca de 70 centimetros de altura, são em alvenaria de pedra. O resto das paredes era levantado em taipa e os telhados, inclinados para o pátio, eram constituídos por telha de meia cana que assentava num tapete de caniço. Os pavimentos são dem terra batida, em tijoleira, ou em argamassa pintada. As paredes interiores eram quase sempre em adobes.









Bairro Islâmico



Este denso labirinto urbano, característico das cidades mediterrânicas e islâmicas, foi abandonado ou destruído durante, ou pouco depois da conquista da cidade em 1238, tendo este terreno sido transformado em cemitério. Todos os compartimentos tinham uma cobertura de telha sobre o caniço, que vertia para o pátio interior, onde as águas pluviais eram aproveitadas. Como acontece ainda hoje na arquitectura tradicional da região., as paredes exteriores em terra pisada (taipa), assentavam num embasamento de alvenaria.







Painel

O tapete musivo deste pórtico estava organizado em 7 painéis quadrangulares com campo central figurativo orlado por um friso ora vegetalista ora, geométrico. Neste painel ainda são reconhecíveis uma lebre e um veado assim como alguns animais selvagens da fauna africana com destaque para uma leoa a amamentar, um leopardo e um outro felino a atacarem herbívoros. Dos espaços intercalares apenas chegou até nós uma cena excecional de leões afrontados contra uma palmeira, aqui representando a árvore da vida. Este tema iconográfico,

Embora raro, encontra-se presente noutros mosaicos do Mediterrâneo.








Galeria

Estamos à entrada de uma enorme galeria subterrânea com 32 metros de comprimento e 6 de altura, que só foi desobstruída pelo Campo Arqueológico de Mértola em 1980. É uma sólida construção abobada que servia de suporte à plataforma artificial onde assenta o palácio episcopal e que também teve funções de armazenamento e mais tarde de cisterna. A sua construção datável de finais do século V d.C. parece ter substituído uma outra obra anterior de contenção e nivelamento do fórum da cidade.





Complexo Batismal

Este edifício de planta rectangular, possivelmente abobadado, continha um batistério octogonal implantado no interior de uma piscina que por sua vez era rodeada por um deambulatório revestido de mosaicos. Virada a oriente, abria-se uma abside em arco ultrapassado com a localização de uma mesa de altar.

A pia batismal sustida por oito pequenos absidíolos, era alimentada por um surtidor de água encontrado no local. Todo este complexo batismal que faria parte integrante de um palácio episcopal do sécuo VI d.C. estava cuidadosamente revestido com placas de mármore.






Complexo Religioso

Batistério II




Da análise das estruturas e da complexidade dos materiais encontrados podemos apontar como indicadores cronológicos para esta estrutura batismal um espaço temporal situado em torno do século VI, devendo a sua utilização ter-se prolongado pelas centúrias seguintes. A proximidade dos dois batistérios, a que distam escassos vinte metros, e a sua comtemporaneidade funcional, levam-nos a pensar em duas comunidades de crentes, ou simplesmente, em instalações batismais para sexos diferentes. Esta nova descoberta vem atestar a vitalidade religiosa e a importância da cidade portuária de Mértola.





Igreja Matriz



A Igreja Matriz de Mértola, ou Igreja de Nª Srª da Anunciação, foi construída na base de uma mesquita muçulmana. Durante a Reconquista, a mesquita foi convertida em igreja cristã, mantendo no entanto a estrutura da mesquita muçulmana. Inclusivamente podemos ver ainda mihrab (local que indica a direção de Meca nas mesquitas).










Torre do Relógio

Edificada em finais do século XVI, num dos torreões da muralha, a Torre do Relógio de Mértola localiza-se perto do rio Guadiana. É um dos locais mais conhecidos e fotografados da vila. Em 1920, foi acrescentada a escadaria que liga ao cais.





O Centro Histórico

O centro histórico de Mértola encerrado dentro das muralhas, com as suas casas caiadas de branco é um emaranhado de ruas estreitas que sobem e descem a encosta e são um deleite para quem gosta de descobrir recantos.

Situada numa zona abençoada pela natureza, na margem do Rio Guadiana, desde cedo Mértola utilizou o melhor que o rio tem para oferecer. Palco de alimento, comunicação e troca de bens, e até de defesa nacional.

Para além dos distintos edifícios e monumentos descritos acima, todo o centro histórico de Mértola, a parte antiga encerrada dentro de muralhas, é um emaranhado de ruas estreitas cuja sombra das casas tradicionalmente pintadas de branco protege do sol intenso do verão.

As ruas que sobem e descem a encosta são um deleite para quem gosta de descobrir recantos e pequenas praças, encontrando os afáveis habitantes desta vila do Alentejo, que certamente o saudarão. Entre conversas, suba às muralhas sempre que puder e veja os campos e colinas que os protetores de Mértola vigiaram ao longo dos séculos.

O coração de Mértola é o seu centro histórico, mais conhecido como Vila Velha. Todas as viagens por Mértola, deveriam começar neste lugar

























Monumento à caça

Mértola recebeu o título de Capital Nacional da Caça, devido à importância que o sector da caça tem na região.

São inúmeras as reservas de caça associativa que criam espécies como coelhos e lebres, veados, javalis, ou perdizes, que se encontram representados no monumento.








Na nossa visita a Mértola ficámos alojados no Hotel Museu.




Motivada pela abertura das escavações do edifico do hotel, uma escavação arqueológica iniciada em 2005 pôs a descoberto vestígios de um bairro portuário do período almóada (século XII) onde foi possível identificar um arruamento e três casas de habitação. Esta zona ribeirinha já era habitada em épocas anteriores, pois também foram registados testemunhos do período romano (séculos III -IV)















1 comentário:

  1. De ano, para ano, ainda não visitei, mas conhecendo por documentários e fotografias, assim como relatos... Maravilha, digna de visita!

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